Hoje disponibilizo um pequeno texto que fiz ainda em 2013 a partir de um passeio que fizemos ao CCBB.
Espero que curtam!
ACONTECIMENTOS
- Oba! Finalmente chegou o dia do passeio!
- Tia, cadê o ônibus?
- Ai, tá demorando muito...
- Chegou, chegou!O ônibus
chegou!
“Rumamos para o Centro Cultural Banco do
Brasil”. Objetivo: Exposição “Obsessão Infinita”. Um pouco de cultura e arte
para os alunos das turmas 1302 e 1402. Chegamos ao CCBB, expectativas,
surpresas, encantamento. Fomos recebidos por uma arte educadora que fez algumas
perguntas e explicou o que iríamos ver e fazer.
Na primeira sala após uma conversa sobre a
artista Yayoi Kusama os arte educadores propuseram que em duplas, as crianças
escrevessem o que a forma geométrica círculo dizia para eles. A partir disso
foi formada uma “rede” com barbante sustentando as palavras ditas. Amizade,
carinho, universo, foram algumas das palavras com as quais as crianças expressaram
tudo o que seria infinito para elas. Os alunos da 1302, lembraram que já
havíamos feito uma atividade semelhante...
A turma 1302 iniciou a visita às salas com
as obras de Kusama. O primeiro quadro, todo feito com bolinhas coloridas chamou
a atenção deles, acharam bonito, diferente e enxergaram formas no emaranhado de
bolinhas. Olharam com olhos de ver.
A ideia de fazer este relato surgiu a
partir da visita à segunda sala. A sala dos quadros intitulados: “Redes Infinitas”.
A arte educadora sugeriu uma roda e que
dessem as mãos aos colegas que estavam longe e tentassem alcançar com os pés
tantos outros. Os comentários, permeados de risos, foram: “Nossa não consigo
chegar até lá”; “Ai, vou cair!”; “Vai não, te seguro”. “Formamos uma escultura,
uma rede humana...” Ao ouvir isso a arte educadora parabeniza-os pedindo que
desmanchassem a obra que haviam acabado de fazer. Em meio às explicações sobre
os quadros, rodeada de olhinhos curiosos, a arte educadora diz o que Kusama
pensou ao idealizar os quadros:
- “Somos pequenos organismos que unidos formamos
uma REDE, igual a que vocês fizeram agora”.
Então Marcelo me abraça e diz simplesmente: -"Ih
tia igual a gente!”, fazendo uma conexão entre a escultura humana que haviam
acabado de fazer e a atividade que fizemos
na escola. Ou ainda me permito dizer, a nossa rede de conhecimentos e
experiências vivenciadas todos os dias.
Quanto conhecimento essa simples afirmação
encerra? Impossível de mensurar. Ver as crianças observando os quadros, fazendo
perguntas, surpreendendo a arte educadora que os acompanhava, se inscrevendo no
mundo de uma forma diferente. Realizando comparações, tomando para si a palavra
dita, vivenciada, potencializada.
Visitávamos uma exposição de uma artista
que apresenta um transtorno obsessivo compulsivo, que repete formas, e mora em
uma clinica psiquiátrica! Loucura e
arte caminhando juntas. E crianças totalmente desprovidas de preconceitos,
descobrindo pessoas, formas, vida, sonhos, em obras nascidas de alucinações.
Questiono-me.
Não
somos loucos obsessivos também quando investimos em estratégias de ação que
transformem as experiências cotidianas em redes de significação?
Não somos loucos obsessivos também quando
insistimos que todo conhecimento advindo da experiência nos potencializa, nos
(auto-trans) forma, nos obriga, nos
movimenta a pensar?
O que vivenciei no CCBB, extrapola
qualquer teoria. Foi mais uma imprevisibilidade do cotidiano com a qual estamos
sempre nos deparando. Foi um acontecimento vivido, prenhe de emoção que será
sempre relembrado, sem limites, pois como nos diz Benjamim, “é apenas uma chave para tudo que veio antes
e depois...”.
Gisele Silva
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